INCT IATS alerta sobre cenário desafiador das doenças cardiovasculares durante a pandemia

Publicações científicas apontam aumento dos infartos ocorridos fora do hospital e redução dos atendimentos hospitalares a pacientes infartados

A pandemia de Covid-19, além de suas consequências diretas, tem influenciado de forma significativa no cenário das doenças cardiovasculares, que representam um importante problema da saúde pública no Brasil e no mundo. Conforme o Global Burden of Disease (GBD), iniciativa de pesquisa que mede a carga de doença e mortalidade no planeta, doenças cardiovasculares acometem mais de 400 milhões de pessoas no mundo, causando 17 milhões de óbitos anuais.

Com o estado de emergência e as medidas de distanciamento social provocados pela pandemia, consequências como adiamento de consultas e procedimentos, restrição de recursos para o atendimento às condições crônicas, em decorrência do direcionamento dos recursos para o enfrentamento à Covid-19, passaram a ser preocupações para os gestores dos sistemas, profissionais de saúde, pesquisadores e pacientes. Soma-se a estes fatores, o receio de exposição ao ambiente hospitalar por parte dos pacientes, o que atrasa a busca por socorro cardíaco e retarda cuidados que podem ser determinantes para evitar agravamento da doença.

Como resposta, a comunidade científica tem demonstrado alto interesse pelo assunto. Em recente levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, ocorreram mais de 31 mil publicações nos últimos meses envolvendo este tema. São artigos, como Out-of-Hospital Cardiac Arrest during the Covid-19 Outbreak in Italy e The Covid-19 Pandemic and the Incidence of Acute Myocardial Infarction, publicados pelo New England Journal of Medicine, os quais apontam que houve aumento significativo dos infartos ocorridos fora do hospital e redução dos atendimentos hospitalares a pacientes infartados, respectivamente.

No JAMA Cardiology, a publicação de um estudo transversal de base populacional mostrou que as paradas cardíacas e mortes fora do hospital durante a pandemia aumentaram significativamente em comparação com o mesmo período do ano anterior. O artigo propõe que a identificação de pacientes com maior risco de parada cardíaca e morte fora do hospital durante a pandemia da Covid-19 é importante para permitir que intervenções precoces e direcionadas na atenção primária possam contribuir para a redução dessas mortes fora do hospital.

Dados de entidades também reforçam o quadro preocupante. Segundo a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, procedimentos como angioplastias de emergência tiveram redução em 70%, a partir de abril, quando começaram as medidas de distanciamento. Tais dados, indicam uma tendência clara: ao não procurarem um hospital, frente a uma urgência cardiovascular, as pessoas estão morrendo em casa e produzindo quadros de saúde cardiovascular mais complicados e sujeitos a sequelas do que se houvesse uma abordagem em tempo e local adequados.

A pandemia trouxe mais complicações para o que já era um problema bastante complexo e deixará como resultado um cenário ainda mais desafiador para a saúde de todos. Cabe aos atores envolvidos nos ambientes institucional, profissional e científico apontar um caminho para que a travessia seja o menos traumática possível para uma sociedade que sairá da pandemia com perdas humanas, econômicas, sociais e com o mesmo conjunto de pessoas necessitando de cuidados com a saúde que havia antes da Covid-19.

E, por fim, cabe à própria sociedade, sob o mesmo espírito de solidariedade e empatia que tem conduzido boas iniciativas durante a pandemia, assumir a responsabilidade pelo cuidado com a saúde, em casa, na família, na comunidade, aconselhado quem precisa e procurando atendimento de saúde sempre que for necessário.

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