Value-Based Health Care (VBHC)

O que é?

O conceito de VBHC foi proposto em 2007 pelos professores da Escola de Negócios de Harvard, Michael Porter e Elizabeth Teisberg, para proporcionar que o investimento em cuidados de saúde fosse mais convertido em melhoria na saúde da população. Os autores demonstram como o estabelecimento da competição no sistema de saúde é saudável para que se possa entregar mais e melhor à saúde da população com os mesmos recursos investidos. Para isso, é necessário redesenhar o sistema em um formato em que haja competição entre as partes, demandando o estabelecimento de novas formas de acordos de pagamento entre as partes o que é conhecido como a migração do sistema de pagamento por volume (fee-for-service) para o pagamento por valor (Value-reimbursement strategies).

Para os autores, valor em saúde deve priorizar a melhoria da atenção à saúde e, como consequência, a sustentabilidade do sistema e isso pode ser alcançado centrando-se a gestão do sistema de nas necessidades reais de cada paciente. Desde a proposição inicial, o termo ‘valor’ é definido pela relação entre os resultados de saúde percebidos pelos pacientes e os custos parar entregar tais resultados.

Na mesma apresentação inicial do conceito, um segundo termo passou a também ser relacionado à definição conceitual de Valor: a ‘pertinência’. Para os autores, de nada adianta uma organização fazer com excelência um procedimento diagnóstico ou de tratamento se este não é necessário ou benéfico à saúde do paciente. Além de gerar perda financeira, em função do uso inadequado dos recursos, uma ação como essa pode submeter o paciente a situações que ele não precisaria ser submetido nesse momento. Assim, a equação mais usual na definição de valor em saúde é a seguinte:

Em que contexto nasceu e como tem se disseminado?

A justificativa para o surgimento do VBHC foi simples: no mundo se observa um crescimento contínuo dos gastos em saúde e, ao mesmo tempo, a população não apresentava um incremento em sua qualidade de vida ou melhora no estado de saúde. Em média os países investem aproximadamente 10% do PIB em saúde, nos Estados Unidos, essa proporção fica próxima dos 18% e o país está longe se possuir uma população exemplar em qualidade de estado de saúde para o mundo. Nesse contexto, a provocação que a Escola de Negócios de Harvard juntamente com professores da Escola de Medicina da mesma instituição assumiu foi de ‘Transformar o Sistema de Saúde’, pois para eles era claro que na forma como estavam o dinheiro investido não estava sendo convertido em melhores resultados de saúde na população mundial.

Desde a proposição inicial em 2007, a Escola de Harvard também passou a oferecer anualmente seminários sobre o tema e nessas ocasiões identifica gestores de organizações de saúde ao redor do mundo para implementar os conceitos, que viram casos de sucesso e inspiram instituições na implementação de VBHC.

Anos mais tarde, com o aumento da disseminação dos conceitos pela Europa, o VBHC Center Europe passou a oferecer uma certificação Green Belt em VBHC juntamente com o Decision Group. Essa certificação hoje também é disponível em português pela Way2Value e o IATS anualmente oferece um curso em VBHC que contabiliza como horas complementares à formação e reúne experiências e desafios brasileiros na saúde pública e privada.

Além da certificação, anualmente o VBHC Center Europe organiza um Prêmio Mundial em casos de sucesso na área, o ‘VBHC Prize’, que contribui para que organizações de todo o mundo sigam continuamente inovando e melhorando a forma como estabelecem suas práticas de gestão e, consequentemente, observam melhores resultados de saúde em seus pacientes. Em 2021 o Brasil entrou na história dos prêmios em VBHC com o projeto Joinvasc que venceu o premio pela transformação que tem feito na linha de cuidado do AVC isquêmico na cidade de Joinville, em Santa Catarina, Brasil.

Como implementar?

 

Para guiar a implementação de VBHC, logo após a apresentação inicial do conceito, foi apresentada a Agenda de Valor que é composta por seis elementos principais: 1) Organização em unidades práticas integradas de cuidado (IPUs); 2) Medir Resultados em Saúde e Custos para todo paciente; 3) Implementar pagamento por Bundles para ciclos de cuidado; 4) Integração do cuidado entre as diversas unidades; 5) Expansão geográfica dos serviços de excelência; e 6) Desenvolvimento de capacidade Tecnológica para sustentar a implementação dos demais elementos.

Agenda de valor

O que o IATS tem feito?

No IATS, desde 2018, um grupo de pesquisadores tem desenvolvido uma linha de pesquisa focada em VBHC e Time-driven activity-based Costing. Faz parte dos resultados dessa iniciativa a criação do TDABC in Healthcare Consortium, que hoje já reúne aproximadamente 100 profissionais de mais de 20 países que trabalham com a aplicação do método TDABC e com a geração de informações acuradas de custos em saúde.

Em colaboração com a sociedade, o grupo de pesquisa tem desenvolvido estudos de VBHC com a indústria farmacêutica, hospitais e com o Estado, sendo destaque os projetos de avaliação de custos de doenças raras no Brasil e o projeto Linhas de Cuidado, em colaboração com o Ministério da Saúde do Brasil.

Na pandemia causada pelo vírus Sars-cov-2, o grupo assumiu a responsabilidade de coordenar um dos principais estudos de avaliação econômica do COVID-19 no Brasil. Estão sendo coletados e analisados dados de milhares de pacientes hospitalizados por COVID-19 em mais de dez hospitais brasileiros para se gerar a informação de custo hospitalar com o tratamento da COVID-19 e, sequencialmente, introduzir uma estratégia de remuneração para COVID-19 no Brasil. Essa pesquisa conta com a colaboração de professores e pesquisadores da Harvard Business School.

As principais linhas de pesquisa em VBHC no grupo são:
  • Proposição de estratégias de remuneração baseadas em valor
  • Custos com aplicação do Time-driven Activity-based Costing
  • Desenvolvimento e validação de protocolos e stantardsets de orientação de coleta e análise de dados de custos e de desfechos
  • Redesenho de serviços de saúde e linhas de cuidado e análise de eficiência em serviços de saúde
  • Coleta e análise de dados de Patient Reported Outcomes
  • Desenvolvimento de ferramentas de gestão para subsidiar a implementação de programas de VBHC

 

Equipe:
  • Professora Coordenadora: Carisi Anne Polanczyk
  • Professora: Ana Paula Beck da Silva Etges
  • Pesquisadores vinculados: Karen Brasil Ruschel, Luciana Rodrigues de Lara e Bruna Zanotto
  • Alunos de doutorado: Josiane Schon, Ricardo Cardoso e Miriam Zago

Fontes:

O que é VBHC. Way2value. Link

Value-Based Health Care. Harvard Business School. Link

 

Matérias relacionadas:

ISPOR: Value-Based Healthcare Implementation. Link