PERSPECTIVAS 2019: Entrevista Profa. Maria Regina de Oliveira

IATS News – Porque é importante divulgar informações científicas? 

A informação científica, sem sua devida e adequada divulgação, está fadada ao fenecimento. A divulgação das informações é o passo essencial para o início do processo de apropriação do novo conhecimento tanto pela comunidade científica quanto pela sociedade como um todo. É importante, no entanto, que além da divulgação nos meios científicos e acadêmicos, haja o esforço para a difusão das informações para a sociedade, de modo mais amplo, envolvendo todos os atores sociais e com acesso para a pessoa que se encontre mais distanciada do meio produtor de informações/conhecimento. Creio que falhamos muito no campo da difusão científica, embora haja alguns esforços relevantes nesse sentido, como as semanas de Ciência e Tecnologia que tem se realizado nos últimos anos; ou as revistas com esse objetivo primário de divulgação para pessoas que não se dedicam a tarefas científicas. Outro ponto a destacar seria a necessidade da produção científica, falando no campo da saúde, com prioridade para os principais problemas da população, seja em termos de sua magnitude ou de sua transcendência. A cadeia de geração do conhecimento é complexa e envolve custos – com boa parte dos custos paga pela sociedade – e o primeiro passo dessa cadeia requer diagnóstico dos problemas, outro ponto em que deveria haver maior participação de todos os atores sociais. A divulgação das informações científicas é passo obrigatório e quase final dessa cadeia de produção, sendo a fase final a experiência e a aplicação que os indivíduos, coletivos e a sociedade representada constroem a partir das informações. Sem a divulgação/difusão/apropriação oportuna e adequada a cadeia produtora de novo conhecimento torna-se ineficiente, por não atingir seu objetivo último.

IATS News – Em sua visão, quais serão os desafios para CT&I em 2019?  

Seguindo na mesma linha de raciocínio e com foco na área da saúde, considero que os grandes desafios no campo da CT&I são: i) o diagnóstico dos problemas de saúde mais relevantes da população, no qual tem se avançado tendo como pano de fundo o ideário do Sistema Único de Saúde, para o direcionamento de políticas do setor; ii) o envolvimento dos atores sociais no processo de construção das prioridades e das demandas; iii) o fomento ao desenvolvimento/aperfeiçoamento de tecnologias e inovações sociais; e iv) o financiamento oportuno para as ações prioritárias. Nesse último ponto, discute-se cada vez mais o papel do Estado como o principal financiador de CT&I; considero o papel do Estado brasileiro essencial para o fomento e regulação das ações em CT&I, ouvindo a sociedade. Então, esse talvez seja o principal desafio a partir de 2019:  que a sociedade mantenha no seu foco uma postura de reivindicação quanto ao papel do Estado brasileiro, que é um papel constitucional, em relação ao ordenamento das políticas e fomento à CT&I.  A sociedade não deveria nunca abrir mão do seu papel ativo nas decisões quanto a investimentos em área tão essencial para o seu desenvolvimento. Tornam-se portanto, prioritárias, as ações da comunidade científica dirigidas a estimular e garantir a participação social no processo, desde o estabelecimento dos problemas prioritários a serem abordados pelos pesquisadores, até a incorporação final do novo conhecimento devidamente traduzido em benefícios para a sociedade.

IATS News – Em sua opinião, como deve ser a política de Estado para CT&I no Brasil?   

Destaco, especialmente, a necessidade de uma política voltada para o desenvolvimento/aperfeiçoamento de tecnologias e inovações sociais, pois sem impacto social estaremos apenas mantendo um sistema de CT&I excludente e mantenedor de desigualdades. Há que se mudar a ordem economicista que tanto alicerça o setor produtivo em CT&, para um ordenamento social. Além disso, uma política de Estado que garanta a participação da sociedade, como já comentado.

Edição: Luiz Sérgio Dibe

Compartilhe:

Comentários desativados