Consumo de alimentos ultraprocessados e impacto cardiometabólico em jovens adultos da coorte do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA)

Apresentação

No Brasil, o consumo alimentar no período de 2002/2003 a 2008/2009 apresentou queda na participação relativa de itens considerados tradicionais (ex: arroz, feijão e farinha de mandioca), enquanto cresceu o consumo de alimentos e bebidas altamente processadas (embutidos, refrigerantes e congelados industrializados). No Brasil, o consumo alimentar no período de 2002/2003 a 2008/2009 apresentou queda na participação relativa de itens considerados tradicionais (ex: arroz, feijão e farinha de mandioca), enquanto cresceu o consumo de alimentos e bebidas altamente processadas (embutidos, refrigerantes e congelados industrializados).

O aumento no consumo dos alimentos ultraprocessados é uma tendência mundial e, por estes alimentos apresentarem um perfil nutricional desfavorável, têm se estudado seu impactado de forma negativa a saúde da população. A adolescência e início da fase adulta são marcados, muitas vezes, pela adoção de hábitos alimentares indesejáveis, como a omissão de refeições, consumo de refeições em frente às telas, alto consumo de alimentos ultraprocessados e baixa ingestão de alimentos in natura ou minimamente processados.

A transição da adolescência para a fase adulta representa um importante período para a promoção da alimentação saudável e prevenção de fatores de risco para o desenvolvimento precoce de doenças crônicas ao longo da vida. Além disso, o início da fase adulta é um momento importante devido ao ganho de autonomia nas decisões alimentares, e com isso, devem estar preparados para fazer boas escolhas alimentares. Na literatura, estudos mostram que o consumo de ultraprocessados é maior em países desenvolvidos. No Brasil, o consumo desses alimentos representa entre 20 a 30% das calorias totais diárias, percentual que cresce a cada ano.

Nesse contexto, torna-se importante avaliar a evolução do consumo de alimentos ultraprocessados desde a adolescência, bem como avaliar o impacto do hábito de consumo desses alimentos na saúde cardiometabólica. A população-alvo elegível para esse estudo teve origem na condução do ERICA. Participaram da primeira fase (Linha de base – 2013/14) do ERICA 1.837 adolescentes entre 12 e 17 anos residentes em Porto Alegre e região metropolitana, estudantes do turno da manhã.

Recentemente, esses jovens foram convidados a participar de uma nova etapa do estudo, dando origem a coorte ERICA. No estudo de coorte do ERICA (Fase 2 – 2018/20) foram coletados dados de 310 jovens adultos com idades entre 17 e 24 anos residentes de Porto Alegre e região metropolitana. Esses adultos jovens que tiveram dados coletados nas duas fases anteriores do estudo compõe a população alvo do presente projeto de pesquisa, o qual visa utilizar dados já existentes e dar continuidade a coorte ERICA, com realização de uma nova onda (Fase 3 2021/22), porém restrita a uma subamostra composta por jovens adultos que reportaram modificações importantes (≥ 20% – aumento ou redução) no consumo de alimentos ultraprocessados ao longo do estudo.

Trata-se de um estudo de coorte que busca acompanhar jovens adultos, agora entre 18 e 26 anos de idade, que participaram das fases anteriores do ERICA. Inicialmente, a terceira fase do estudo de coorte terá como foco o consumo de alimentos ultraprocessados e fatores de risco cardiometabólicos. Parte dos dados necessários para responder aos objetivos desse estudo já foram coletados nas etapas anteriores do estudo ERICA. Mais informações sobre a condução das fases anteriores do ERICA podem ser obtidas no protocolo da pesquisa. No entanto, uma nova fase do estudo está sendo proposta. Essa nova fase tem como foco principal o consumo de alimentos ultraprocessados no início da idade adulta e sua relação com marcadores cardiometabólicos.

Para tanto, os participantes da coorte ERICA serão contatados e convidados a participar novamente do estudo. Em um primeiro momento, aqueles que aceitarem participar, terão seu cadastro junto ao estudo atualizado e responderão a um recordatório alimentar de 24h por telefone. Com base nesse registro e nos dados obtidos nas fases anteriores do estudo, será possível investigar a variação no consumo desse tipo de alimento e comparar como essas possíveis variações impactam em desfechos de saúde. Portanto, aqueles que apresentarem uma variação importante no consumo de alimentos ultraprocessados (> 20%) ao longo do tempo serão convidados a visitar o Centro de Pesquisas Clínica (CPC) do Hospital de Clínicas e realizar uma nova coleta de dados.

A amostra desta nova fase será composta por jovens adultos com idade entre 18 a 26 anos que tenham participado das fases anteriores da coorte e que sejam residentes de Porto Alegre e região metropolitana. As coletas serão realizadas em Porto Alegre-RS no CPC. Os participantes serão contatados por telefone, ou e-mail, dados já informados na coorte, a fim de informá-los sobre a realização do estudo e convidá-los a participar dessa nova etapa. Neste primeiro momento será realizada atualização de dados cadastrais para facilitar o acompanhamento e andamento da pesquisa e também será feito recordatório de 24 horas por telefone para estimar o consumo atual de alimentos ultraprocessados.

Posteriormente, os resultados serão combinados com aqueles já coletados nas fases anteriores e os participantes que relataram aumento ou redução de pelo menos 20% no consumo de alimentos ultraprocessados em relação à fase 1 e 2 do estudo serão convidados a comparecer no CPC, com data e horário previamente agendados pelos pesquisadores. O mesmo deverá assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participação no estudo (ANEXO 1). Nesta etapa serão replicados os questionários, avaliação antropométrica, coleta sanguínea e aferição de pressão arterial de acordo com o protocolo do estudo.

A coleta de dados desta nova fase (Fase 3) será realizada por equipe de avaliadores previamente treinados utilizando técnicas padronizadas. Essa etapa incluirá o preenchimento de um questionário, realização de medidas antropométricas, recordatório alimentar de 24 horas presencial, avaliação da pressão arterial e exames laboratoriais de sangue. O questionário será autopreenchido usando-se um PDA (assistente de digitação pessoal), modelo LG GM 750Q. Os principais temas cobertos pelo questionário serão: nível socioeconômico, atividade física, comportamento alimentar, fumo, consumo de álcool, saúde oral, saúde mental, saúde reprodutiva, histórico médico de doenças crônicas, sono, entre outros.

As medidas antropométricas incluirão medidas de altura, peso e circunferências da cintura e do braço. A pressão arterial será verificada com monitor digital (Omron 705-IT) e os exames laboratoriais serão realizados através de amostras de sangue coletadas sem a necessidade de jejum: hemoglobina glicada (HbA1c), colesterol total e frações, triglicerídeos, proteína C reativa e hemograma.

Os objetivos gerais do projeto incluem: (1) Avaliar a associação transversal entre o consumo de alimentos ultraprocessados e fatores de risco cardiometabólicos durante a adolescência e no início da idade adulta; (2) Avaliar a variação (aumento ou diminuição) no consumo de alimentos ultraprocessados na transição da adolescência para idade adulta e seu impacto em fatores de risco cardiometabólicos em participantes da Coorte do estudo ERICA. Além disso, fazem parte deste projeto alguns objetivos específicos como: (1) Avaliar a associação entre o consumo de alimentos de acordo com seu grau de processamento e fatores de risco cardiometabólicos em diferentes períodos da transição entre adolescência e início da idade adulta; (2) Avaliar o percentual de participantes que aumentaram o consumo de alimentos ultraprocessados durante as três fases propostas do estudo; (3) Avaliar o percentual de participantes que diminuíram o consumo de alimentos ultraprocessados durante as três fases propostas do estudo; (4) Comparar perfis de alteração (aumento ou redução) no consumo de alimentos ultraprocessados ao longo do período do estudo sobre o IMC, circunferência da cintura e exames bioquímicos; (5) Avaliar fatores demográficos, socioeconômicos e educacionais associados a variação no consumo de alimentos ultraprocessados ao longo do estudo.

Status: Em andamento
Início: Março/2020
Conclusão prevista: Dezembro/2024
Eixo temático: Doenças Cardiovasculares e Fatores de Risco
Eixo metodológico: Pesquisas Epidemiológicas
Instituição coordenadora:
UFRGS
Coordenação: 
Beatriz D Schaan (UFRGS)

Integrantes:
Mariana Migliavacca Madalosso (UFRGS)
Felipe Vogt Cureau (UFRGS)
Pamela Ferreira Todendi (UFRGS)
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