Análise de custo-efetividade dos testes de diagnóstico rápido para a deficiência de G6PD em pacientes com malária por plasmodium vivax na Amazônia brasileira

Resenha do artigo:

Peixoto, H.M., Brito, M.A.M., Romero, G.A.S. et al. Cost-effectiveness analysis of rapid diagnostic tests for G6PD deficiency in patients with Plasmodium vivax malaria in the Brazilian Amazon. Malar J 15, 82 (2016). https://doi.org/10.1186/s12936-016-1140-x.

A enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) exerce um importante papel na proteção da hemácia contra agentes oxidantes, sendo fundamental para a neutralização de produtos tóxicos de oxigênio originados principalmente das drogas oxidantes e das infecções, que podem danificar a membrana dos eritrócitos, resultando em hemólise. A deficiência da G6PD (dG6PD) é uma doença genética causada por mutações no gene que codifica a enzima. Atualmente, são conhecidas 186 mutações que produzem variadas manifestações funcionais, tanto bioquímicas quanto fenotípicas.

O gene da G6PD é localizado na região telomérica do braço longo do cromossomo sexual X (banda Xq28), podendo acometer ambos os sexos, embora as manifestações clinicamente relevantes ocorram predominantemente em indivíduos do sexo masculino. Na América Latina, a primaquina, uma 8-aminoquinolina usada no tratamento radical da infecção provocada pelo Plasmodium vivax, por atuar nos hipinozoítos, representa o principal agente associado à hemólise grave, impondo risco à vida dos pacientes com dG6PD (Monteiro, Franca, et al. 2014; Domingo et al. 2013).

Nas infecções por P. vivax, a maioria dos parasitos desenvolve-se e evade rapidamente do fígado, porém, alguns, denominados hipnozoítos, permanecem latentes nos hepatócitos para posteriormente causarem recaídas (MS 2010; Wells et al. 2010). Nesta perspectiva, a primaquina é atualmente a única droga licenciada capaz de combater os hipnozoítos. Futuramente, a tafenoquina, novo medicamento em fase avançada de desenvolvimento e que tem demonstrado uma boa eficácia na prevenção de recaídas com apenas uma dose, poderá potencializar os esforços dirigidos à eliminação da malária vivax. Mas, por ser uma 8-aminoquinolina, apresenta o mesmo desafio em relação à segurança para os portadores da dG6PD.

A dG6PD é amplamente distribuída nos países considerados endêmicos para malária, onde se estima que existam 353 milhões de portadores, constituindo uma prevalência geral de 8%, dos quais 220 milhões são homens. Observa-se uma maior prevalência em algumas regiões da África Subsaariana, seguidas da Ásia e da América Latina. No Brasil, os nove Estados que compõem a Amazônia Brasileira concentram mais de 99% dos casos de malária, registrando em média 329 mil casos entre os anos de 2009 e 2013, com predomínio de 84% da malária provocada pelo P. vivax.

Nessa região, a prevalência estimada da dG6PD para o sexo masculino é de 4,5% com predomínio da variante Africana. Diversos casos de hemólise induzida pela primaquina vêm sendo registrados na Amazônia Brasileira. O problema deve ser abordado pelas autoridades sanitárias, principalmente no momento em que se empreendem esforços regionais e internacionais dirigidos à redução da incidência e da mortalidade por malária.

No Brasil, o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM), norteado pelo sistema público de saúde, é responsável pelo diagnóstico e tratamento da malária em todo o território nacional. O PNCM não prevê a testagem para dG6PD em sua rotina e preconiza o uso de primaquina para todos os pacientes infectados com P. vivax, exceto gestantes e crianças menores de seis meses. A esse respeito, estudos indicam que o uso de uma 8-aminoquinolina por um portador de dG6PD pode resultar em anemia grave, falência renal aguda e óbito em decorrência da hemólise.

Assim, como os profissionais de saúde não conhecem se os indivíduos tratados com primaquina portam ou não a dG6PD, alguns portadores da deficiência enzimática recebem o medicamento e desenvolvem complicações, gerando uma consequente demanda por recursos do sistema público de saúde.

Nesse contexto, embora em nenhuma área endêmica para malária a testagem sistemática da dG6PD seja realizada, a detecção da dG6PD antes da indicação da primaquina, poderá contribuir para maior segurança no tratamento em pessoas com dG6PD. Sendo assim, a identificação e uso de diagnóstico que seja rápido, eficiente e factível em condições de campo torna-se prioritária.

Elaborado por:
Henry Maia Peixoto
Data da Resenha:
26/04/2016
Eixo Temático:
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico:
Análises Econômicas

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