Medidas de distanciamento social para o enfrentamento da COVID-19 no Brasil: caracterização e análise epidemiológica por estado

Resenha do artigo:
Silva, Lara Lívia Santos da et al. Medidas de distanciamento social para o enfrentamento da COVID-19 no Brasil: caracterização e análise epidemiológica por estado. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 36, n. 9 [Acessado 21 Maio 2021] , e00185020. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-311X00185020>. ISSN 1678-4464. https://doi.org/10.1590/0102-311X00185020.

Na ausência de vacinas e antivirais seguros e eficazes para a prevenção e tratamento da COVID-19, as intervenções de saúde pública do tipo não farmacológicas tornaram-se as opções mais eficientes para mitigar e controlar esta doença em nível local e global. E dentre essas intervenções destacam-se as medidas de distanciamento social, cujo termo se refere a esforços que tem como objetivo diminuir ou interromper a cadeia de transmissão da doença pelo distanciamento físico entre indivíduos.

No Brasil, assim como em diversos países no mundo, uma série de medidas de distanciamento social, como a suspensão de eventos em massa, fechamento de escolas e locais de trabalho, fechamento das fronteiras, entre outros, foi implementada para conter a transmissão do SARS-CoV-2 (vírus causador da COVID-19). No entanto, pela ausência de uma política nacional abrangente de distanciamento social, essas medidas foram implementadas de forma heterogênea entre os estados brasileiros.

Com o objetivo de caracterizar o tipo de medida implementada e o momento cronológico e epidemiológico dessa implementação em cada umas das 27 Unidades da Federação (UF) brasileiras, pesquisadores do IATS, em parceria com pesquisadores de outras instituições, fizeram o levantamento dessas medidas por meio de buscas em sites oficiais das Secretarias de Governo e no Diário Oficial de cada UF e as organizaram em uma ferramenta gráfica de visualização de dados de acesso livre que pode ser acessada por meio deste link. Em seguida, publicaram os achados no artigo “Medidas de distanciamento social para o enfrentamento da COVID-19 no Brasil: caracterização e análise epidemiológica por estado”, disponível no periódico Cadernos de Saúde Pública.

Neste artigo, os autores consideraram as seguintes categorias de medidas de distanciamento social: suspensão de eventos, suspensão de aulas, quarentena para grupos de risco, paralisação econômica (parcial ou plena), restrição de transporte e quarentena para a população. Em todas as UFs, foram implementadas quatro ou mais categorias dessas medidas, sendo a suspensão de eventos, suspensão de aulas e a quarentena dos grupos de risco as primeiras medidas a serem implementadas. Na maioria das UFs, as implementações ocorreram durante a segunda quinzena de março de 2020, sendo o Distrito Federal a primeira UF a implementar um conjunto de medidas no dia 11 de março de 2020, exatamente no dia em que a OMS declarou a pandemia de COVID-19.

Em relação ao momento epidemiológico da implementação das medidas, o artigo apresenta que teve pouca variação entre as UFs e que a maioria delas implementou essas medidas de maneira precoce, muitas vezes antes ou na fase inicial da curva de crescimento exponencial de casos e óbitos por COVID-19. Foi observado, por exemplo, que todas as UFs que implementaram a categoria paralisação econômica plena, ou seja, suspensão de todas as atividades e serviços não essenciais, a fizeram no período de até 13 dias após a notificação do primeiro caso de COVID-19, e dentre aquelas que implementaram essa categoria de forma parcial, Pará, Rio Grande do Norte e São Paulo foram as únicas UFs que a implementaram após o primeiro óbito por COVID-19, com intervalo de 34, 5 e 7 dias, respectivamente. Inúmeros estudos na literatura têm discutido que a implementação precoce das medidas de distanciamento social é fundamental para reduzir a transmissão da doença e, consequentemente, reduzir a demanda dos serviços de saúde pelo achatamento da curva de casos, o que certamente pode ter tido um efeito positivo em algumas regiões do nosso país. No entanto, o momento ideal dessa implementação, assim como a sua duração, deve ser avaliado em estudos específicos para essa finalidade para que se possa identificar as intervenções que alcancem os efeitos epidemiológicos desejáveis, causando o mínimo de danos econômicos e sociais, e evitando o desgaste e a perda da adesão por parte da população, como já tem sido observado em muitas UF brasileiras.

Elaborada por:
Lara Lívia Santos da Silva
Data da Resenha:
20/10/2020
Eixo Temático:
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico:
Análises Econômicas

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