Custo-efetividade do diagnóstico de malária na região extra-amazônica, Brasil

Resenha do artigo:

de Oliveira MR, Giozza SP, Peixoto HM, Romero GA. Cost-effectiveness of diagnostic for malaria in Extra-Amazon Region, Brazil. Malar J. 2012 Nov 23;11:390. doi: 10.1186/1475-2875-11-390. PMID: 23176717; PMCID: PMC3533805.

No ano 2010, os 18 estados brasileiros da área extra-Amazônica notificaram, ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), 3.066 investigações de malária. Nesta área geográfica, o diagnóstico de malária constitui um evento raro que impõe o desafio de manter as equipes adequadamente capacitadas para o diagnóstico. O método convencional mais largamente utilizado é a microscopia, por meio da gota espessa. Como inovação tecnológica no diagnóstico da malária na década de 1990, foram introduzidos os testes rápidos (TR) baseados em imunocromatografia, que detectam antígenos específicos de Plasmodium em sangue colhido por punção digital. O Programa Nacional de Controle da Malária indica o uso de TR em áreas de baixa endemicidade ou difícil acesso.

A pesquisa teve por objetivo realizar análise de custo-efetividade (ACE) do uso de TR para o diagnóstico de casos novos de malária vivax e falciparum, comparando com a gota espessa, em um período hipotético de intervenção no ano de 2010, na área extra-Amazônica. Foi utilizado o modelo analítico de árvore de decisão a partir da situação de um paciente ambulatorial, apresentando síndrome febril ou outros sinais/sintomas, que chega ao SUS. Foram avaliados cinco TR: SD Bioline FK60 (PF/Pan)™; CareStart (Pan)™; First Response Malaria Combo™; Parascreen™ (Pf/Pan); e ICT BinaxNOW Malaria™. A perspectiva da análise foi a do SUS, realizada para o desfecho casos de malária diagnosticados adequadamente. As fontes epidemiológicas foram: o Sinan e a literatura científica por meio do Medline, Cochrane library, SciELO, e Lilacs. Foram estimados os custos diretos do diagnóstico da malária para o ano de 2010, em reais (R$), com conversão para o dólar americano.

Produziram-se duas análises, a primeira denominada “microscopia exclusiva” – relacionada à forma de custeio que não leva em conta a carga de trabalho com a malária, considerando os microscópios de uso exclusivo no diagnóstico da doença; e a segunda, denominada “microscopia compartilhada” – relacionada à forma de custeio que pondera pela carga de trabalho dos profissionais de saúde com a malária. Ambas as análises utilizaram a estratégia mais barata como a linha de base: o TR First Response Malaria Combo™. Na primeira análise o TR CareStart™ foi a estratégia mais custo-efetiva. Na segunda análise, a microscopia foi extremamente custo-efetiva e todos os demais TR foram menos efetivos e mais caros do que a gota espessa. Introduzindo-se no modelo analítico da microscopia compartilhada, a probabilidade de 100% de acesso de um usuário do SUS ao TR e de 85% de acesso à microscopia, esta perde a efetividade, sendo o TR CareStart™, o mais custo-efetivo.

Concluiu-se que o custo-efetividade de tecnologias para o diagnóstico de malária na área extra-Amazônica depende da decisão quanto ao uso da microscopia de forma exclusiva para malária ou compartilhada com outros programas. Quando compartilhada, a microscopia é a estratégia mais custo-efetiva, dentre as seis tecnologias avaliadas, e quando usada exclusivamente para o diagnóstico da malária faz o pior uso dos recursos. O estudo estima, ainda, que o acesso ao diagnóstico também é um fator relevante para a decisão. A microscopia deixaria de ser a estratégia mais custo-efetiva, mesmo quando em uso compartilhado, quando o acesso a ela fosse reduzido e a probabilidade de ter acesso aos TR fosse de 100%. Neste cenário, o TR CareStart™ seria a estratégia mais custo-efetiva. Esta constatação é muito importante para gestão do Programa, uma vez que se pressupõe que a introdução dos TR possa ampliar o acesso ao diagnóstico na Região estudada.

Elaborado por:
Maria Regina Fernandes de Oliveira
Data da Resenha:
02/10/2013
Eixo Temático:
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo metodológico:
Análises Econômicas

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