Pesquisa do IATS define passos para microcusteio em saúde

Em entrevista, a pesquisadora do IATS Ana Paula Beck da Silva Etges descreve as evidências contidas no recém publicado artigo An 8-step framework for implementing time-driven activity-based costing in healthcare studies. O paper reporta sobre o estudo que teve como objetivo explorar a literatura e categorizar casos práticos para propor uma estrutura de oito etapas para aplicação do método TDABC (Time-Driven Activity-Based Costing) em estudos de microcusteio para organizações de saúde. A estrutura do TDABC em oito etapas é apresentada e detalhada, explorando planilhas on-line já codificadas para demonstrar a estrutura de dados e a construção de fórmulas matemáticas.

O artigo também sugere uma lista de análises que podem ser executadas, incluindo uma explicação sobre as informações que cada análise pode fornecer para aumentar a capacidade da organização de orientar a tomada de decisão. O estudo de caso desenvolvido mostra que o microcusto real dos processos de assistência à saúde pode ser alcançado com a estrutura TDABC em oito etapas e seu uso em pesquisas futuras pode contribuir para aumentar o número de estudos que atingem um nível de alta qualidade em informações de custo e, consequentemente, da avaliação sobre a aplicação de recursos em saúde. Boa leitura:

IATS News – O método TDABC (Time-Driven Activity-Based Costing)  já é consagrada para estudos de custos? Que novidade traz este artigo?

ANA PAULA – O TDABC foi desenvolvido em 2007 para tornar o uso do custeio por atividade mais facilmente aplicável pelas empresas. Na sua origem, o método foi desenvolvido para melhor aferir e gerir custos de serviços. Desde 2010, impulsionado pela Harvard Business School, o TDABC passou a ser amplamente aplicado em estudos de custos de saúde. O que motivou o desenvolvimento do nosso artigo foi a identificação obtida ao analisar a forma como autores têm aplicado e adaptado o método para  a condução de estudos de microcusteio em saúde. Em uma revisão da literatura, identificou-se inúmeras variações e simplificações da metodologia. 

IATS News – Em sua visão, o roteiro de oito passos desenvolvido neste estudo propicia quais qualidades aos estudos de microcusteio?

ANA PAULA – Através dos oito passos propostos, acrescidos de modelos de planilhas eletrônicas para estruturação de dados, espera-se que outros pesquisadores possam mais facilmente aplicar o método em estudos de microcusteio, contribuindo para a melhoria da qualidade das informações de custos que serão geradas através destes estudos. Este artigo consolida uma orientação metodológica de como conduzir estudos de microcusteio considerando o uso do TDABC. Paralelamente a ele, o grupo de pesquisadores do IATS produziu uma diretriz entregue ao Ministério da Saúde para orientações sobre o mesmo tema. Este estudo tem artigo resumo publicado no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde e também é uma leitura importante.

IATS News – Porque é importante realizar análises de microcusteio em instituições e sistemas de saúde?

ANA PAULA – Análises de microcusteio são apresentadas na literatura como o “padrão ouro” para a obtenção de uma informação acurada de custos a partir de dados primários. A demanda por recursos para saúde tem crescido em todo o mundo e a capacidade de monitoramento e compreensão da forma como o dinheiro tem sido despendido ainda é limitada. Esforços contínuos com o desenvolvimento de estudos de custos contribuem para que organizações de saúde e órgãos reguladores possam melhor compreender a forma como o dinheiro é gasto e, consequentemente, avaliar as políticas de reembolso aplicadas.

IATS News – Que tipo de benefícios, por exemplo, os potenciais resultados podem trazer para a administração de recursos em uma organização?

ANA PAULA – O ponto de partida da aplicação do TDABC é entender os fluxos de pacientes e desdobrar como eles consomem os recursos do hospital. Através desse detalhamento, é possível identificar oportunidades de otimização de processos e redução de custos ao longo do atendimento. Na literatura, o método tem sido frequentemente utilizado em estudos que exploram a gestão de saúde baseada em valor, além de permitir melhor aferição de custos contribuir com a capacidade de compreensão do processo de cuidado. 

IATS News – E para a sociedade, através da gestão da saúde pública?

ANA PAULA – A utilização do método contribui para melhor compreensão dos custos reais para o tratamento dos pacientes além de permitir a identificação de oportunidades de redução de custos. Na prática, o conhecimento mais detalhado dos custos permitiria que a distribuição do orçamento público da saúde cobrisse os custos de forma mais assertiva. Atualmente, os hospitais recebem o reembolso da União pelo SUS e verbas dos governos estaduais e municipais, sendo elas oriundas dos ministérios da Saúde e da Educação. A forma como o dinheiro é destinado às instituições considera apenas o volume de procedimentos prestados. O desenvolvimento de métodos que permitam o monitoramento acurado de custos e processos de cuidado passa a proporcionar a oportunidade de remunerar as instituições considerando a qualidade do serviço entregue aos pacientes (Pay for Performance) e não somente o volume de serviço (Fee for Service). 

LEIA O ARTIGO AQUI: An 8-step framework for implementing time-driven activity-based costing in healthcare studies

LEITURA SUGERIDA PELA AUTORA: Estudos de Microcusteio aplicados a avaliações econômicas em saúde: uma proposta metodológica para o Brasil  Edição: Luiz Sérgio Dibe

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