Avaliação de custo-efetividade de voriconazol versus anfotericina b lipossômica como terapia empírica para neutropenia febril na Austrália

Resenha do artigo:

Al-Badriyeh D, Liew D, Stewart K, Kong DC. Cost-effectiveness evaluation of voriconazole versus liposomal amphotericin B as empirical therapy for febrile neutropenia in Australia. J Antimicrob Chemother. 2009 Jan;63(1):197-208. doi: 10.1093/jac/dkn459. Epub 2008 Nov 11. PMID: 19001450.

As infecções fúngicas invasivas são a maior causa de morbidade e mortalidade em pacientes imunossuprimidos. O uso de antifúngicos de amplo-espectro é indicado para o tratamento empírico de neutropenia febril a fim de se evitar graves complicações. Como esses medicamentos são de alto custo, o estudo de Al-Badriyeh et al. apresenta uma análise de custo-efetividade do Voriconazol (Vfend®, Pfizer) versus Anfotericina Lipossomal (Ambisome®, Gilead Sciences), como primeira linha antifúngica do tratamento empírico de neutropenia febril na Austrália. Foi construído um modelo farmacoeconômico a partir de um ensaio clínico randomizado (ECR), multicêntrico, aberto, realizado por Walsh e colaboradores. 837 pacientes foram arrolados para receber voriconazol (n=415) ou anfotericina lipossomal (n=422), concluindo que o voriconazol poderia ser uma alternativa adequada quando comparado à anfotericina lipossomal, apesar de parecer inferior na prevenção do desfecho de sobrevida composto, entre outros desfechos analisados (total das taxas de sucesso voriconazol 26% vs. anfotericina lipossomal 30.6%; IC 95% da diferença -10,6 a 1,6).

A análise econômica considerou a perspectiva hospitalar, com horizonte temporal de sete dias após o término do tratamento. Somente custos médicos diretos para o tratamento de infecções fúngicas foram incluídos, como testes diagnósticos e de monitorização, terapia medicamentosa e medicamentos complementares, internação e duração do tratamento. Custos médicos indiretos relacionados à doença de base e custos hospitalares indiretos (ex. salário da equipe) não foram incluídos. Os custos foram calculados em dólares australianos referentes ao período 2007-08, sem taxa de desconto em função do curto espaço de tempo da análise. Os valores foram baseados em dados do Australian Medicare Benefits Schedule Book (2007), Health Purchasing Victoria Tender (2007-09), Australian Refined Diagnosis-related Groups (2006-07) e Australian Consumer Price Index (2008).

O modelo econômico incluiu, para cada um dos antifúngicos, oito possíveis resultados de tratamento. A terapia foi considerada bem-sucedida se o paciente não apresentou novas infecções fúngicas, sobreviveu sete dias após o término do tratamento, não descontinuou o tratamento prematuramente, apresentou resolução de febre no período da neutropenia e apresentou sucesso no tratamento da infecção fúngica de base.

O custo médio ponderado por paciente foi de AU$49.237 para o voriconazol e de AU$47.815 para anfotericina lipossomal, demonstrando vantagem econômica de AU$1422 (2,9%) por paciente a favor da anfotericina lipossomal. O custo de sucesso e de sobrevida foi de AU$ 156.412 e AU$ 50.824, respectivamente, sendo inferior ao do voriconazol (AU$ 189.228 e AU$ 53.489, respectivamente). O estudo não apresentou valores expressos em anos de vida ganho, nem utilizou modelo de Markov para sua estimação uma vez que o acompanhamento pós-tratamento foi de sete dias.

A análise de sensibilidade indicou que a diferença de custo inicial (AU$1422) em favor da anfotericina lipossomal não foi sensível às mudanças nos custos de aquisição de medicamentos. Entretanto, houve certa sensibilidade ao uso de voriconazol oral como terapia inicial (cost saving global de AU$1198 se todos os pacientes recebessem via oral). A análise de Monte Carlo, em 10.000 simulações, demonstrou cost saving de AU$ 28.494 em favor da anfotericina lipossomal, por paciente. O valor de cost saving máximo esperado para anfotericina lipossomal foi de AU$60517, enquanto que para o voriconazol, AU$4850.

As taxas utilizadas pelo modelo foram de um ECR aberto, de hipótese de não inferioridade, o que implica numa menor confiabilidade da real eficácia dos medicamentos comparados. O estudo econômico foi bem estruturado e realizado, porém a ausência dos valores dos equipamentos complementares à administração de cada fármaco pode ter subestimado o custo total de cada tratamento; e o uso de um painel de especialistas para a estimativa da utilização de recursos representa menor precisão dos valores quando comparados a dados de origem primária. A comparação do voriconazol e da anfotericina lipossomal com a anfotericina B seria de maior valia para a nossa realidade hospitalar, já que seu uso é indicado para tratamento empírico de infecções fúngicas em neutropenia febril. Os dados apresentados por este estudo não podem ser diretamente extrapolados para o Brasil em razão das diferentes realidades tanto no âmbito econômico quanto da saúde. No entanto, frente à ausência de estudos nacionais sobre o tema, permite visualizar o impacto da escolha entre tecnologias, salientando-se que nem sempre a tecnologia aparentemente mais econômica se confirma mais custo-efetiva quando avaliada por metodologia científica adequada.

Elaborado por:
Juliane Fernandes Monks
Cristian Theófilo Gonçalves Lopes
Leila Beltrami Moreira
Data da Resenha:
21/12/2009
Eixo Temático:
Serviços de Saúde e Políticas Públicas
Eixo metodológico:
Análises Econômicas

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