Pertuzumabe em combinação com Trastuzumabe e Docetaxel para o tratamento de Câncer de Mama her-2 positivo metastático ou localmente recorrente irresecável

Resenha do artigo:

Fleeman N, Bagust A, Beale S, Dwan K, Dickson R, Proudlove C, Dundar Y. Pertuzumab in combination with trastuzumab and docetaxel for the treatment of HER2-positive metastatic or locally recurrent unresectable breast cancer. Pharmacoeconomics. 2015 Jan;33(1):13-23. doi: 10.1007/s40273-014-0206-2. PMID: 25138171.

O Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (National Institute of Healt and Care Excellence – NICE) é uma organização independente responsável por fornecer diretrizes para o Serviço de Saúde Nacional (National Health Service – NHS) da Inglaterra e País de Gales e é, entre outros, responsável pelas avaliações de novas tecnologias em saúde. A demanda, geralmente, é apresentada pelo fabricante ou patrocinador. E a partir dela, é produzida uma diretriz final, na qual a Comissão de Avaliações do NICE utiliza a revisão crítica das evidências, realizada pelo Grupo de Revisão de Evidências (Evidence Group Review – EGR), bem como o depoimento de especialistas, pacientes e outras partes interessadas.

O principal objetivo deste artigo foi sumarizar a revisão realizada pelo EGR a partir das evidências submetidas pelo fabricante para a incorporação do medicamento pertuzumabe no tratamento de câncer de mama HER-2 positivo metastático e localmente recorrente irressecável.

A principal fonte de evidências clínicas foi o ensaio clínico randomizado fase III, CLEOPATRA, que incluiu 808 pacientes não tratadas previamente para sua condição metastática e avaliou a eficácia e segurança de pertuzumabe + trastuzumabe + docetaxel comparado com placebo + trastuzumabe + docetaxel.

Os resultados do acompanhamento de 30 meses demonstraram aumento na sobrevida livre de progressão de 6,3 meses no grupo tratado com pertuzumabe em comparação com placebo (18,7 vs 12,4 meses; HR 0,69 – 95% CI 0,58-0,81; p<0,0001) e também um aumento na sobrevida global (HR= 0,66 – 95% CI 0,52-0,84; p<0,0008), sendo que a mediana foi de 37,6 meses no grupo placebo e ainda “não atingida” na data de análise no grupo pertuzumabe. As reações adversas mais comuns em ambos os grupos (pertuzumabe vs placebo) foram alopécia (60,8 vs 60,6%), diarreia (68,1 vs 48,2%), neutropenia (52,9 vs 49,7%), náusea (43,9 vs 42,4%) e fadiga (38 vs 37,4%), sendo que as reações graves tiveram incidência maior do grupo pertuzumabe. Em relação ao risco de cardiotoxicidade, poucos eventos foram relatados nos dois grupos.

Segundo a avaliação do EGR, o estudo CLEOPATRA possui boa qualidade metodológica, com risco mínimo de viés, porém há incertezas nas questões referentes (1) à validade externa do estudo, pois somente uma minoria de pacientes (10,9%) teriam recebido previamente trastuzumabe no tratamento para o câncer de mama inicial (trastuzumabe é atualmente o tratamento padrão para o câncer de mama HER-2 positivo não metastático), (2) à análise de subgrupos, uma vez que pacientes com metástases não-viscerais não se beneficiariam com a adição do pertuzumabe ao tratamento (discrepância atribuída pelo fabricante a diferenças nas características basais dos pacientes) e (3) ao fato de que não é possível estimar o tamanho do efeito na sobrevida global já que a mediana ainda não foi estimada até o momento da submissão.

A análise de custo-efetividade apresentada pelo fabricante também é discutida, pois a análise de sensibilidade mostrou que o tratamento pertuzumabe + trastuzumabe + docetaxel teria 0% de chances de ser custo efetivo considerando uma disposição de pagar (willingness-to-pay) £30.000 por QALY ganho quando comparado ao trastuzumabe + docetaxel. O ERG acredita que o custo incremental pode ser considerado maior do que aquele apresentado (quase o dobro). Isso pois a reanálise dos dados apresentados mostra que não há benefício na sobrevivência após a progressão da doença, ao contrário do que estima o melhor caso apresentado pelo fabricante. Isso reduziria o impacto estimado na sobrevida global e, consequentemente, aumentaria os valores encontrados na análise de custo.

A avaliação do pertuzumabe gerou uma nova discussão muito relevante: como lidar com tecnologias que não são efetivas a custo zero? Mesmo que sejam incomuns, existem situações em que o prolongamento da sobrevida está associado a custos adicionais altíssimos e que não podem ser compensados pela economia de custos. Por fim, mesmo após considerar todas as evidências e limitações, até a data da publicação, uma decisão em relação ao pertuzumabe ainda não havia sido tomada.

Elaborado por:
Luiza Grazziotin
Data da Resenha:
28/04/2014
Eixo Temático:
Outras Doenças Não-Transmissíveis
Eixo Metodológico:
Ensaios Clínicos Randomizados

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