Custos incrementais do tratamento de tétano com imunoglobulina por via intratecal

Resenha do artigo:

Miranda-Filho DB, Ximenes RA, Siqueira-Filha NT, Santos AC. Incremental costs of treating tetanus with intrathecal antitetanus immunoglobulin. Trop Med Int Health. 2013 May;18(5):555-63. doi: 10.1111/tmi.12091. Epub 2013 Mar 5. PMID: 23461581.

Em seguida a dois ensaios clínicos randomizados publicados em 1998 e 2004, uma metanálise concluiu, em 2006, que a via intratecal (que permite o acesso ao líquido espinhal ou raquidiano) é mais eficaz do que a via intramuscular (IM) e deve ser preferida para uso de imunoglobulina antitetânica (HTIG) no tratamento do tétano. Outro estudo de 2011 também mostrou benefícios dessa via no tratamento do tétano neonatal.

A HTIG é usada no tratamento do tétano para neutralizar a toxina responsável pelos sintomas, antes que ela se fixe ao sistema nervoso. Para ser aplicada por via intratecal ela deve ser de origem humana e sem conservantes, a fim de evitar o risco de irritar o sistema nervoso central. Seu custo é maior porque o processo de produção é mais complexo e por esta formulação ter uma validade mais curta. A maioria dos pacientes com tétano tem doença leve no momento da admissão ao hospital, mas alguns podem progredir para formas graves e necessitar de assistência respiratória. Dada esta evolução potencial, recomenda-se que esses indivíduos sejam tratados em unidades de terapia intensiva, preferencialmente em centros de referência. O uso intratecal da HTIG pode reduzir os custos do tratamento do tétano, por reduzir a gravidade da doença e o tempo de hospitalização. Não havia publicação na literatura sobre avaliação de custo do tratamento de doentes com tétano.

O estudo “Incremental costs of treating tetanus with intrathecal antitetanus immunoglobulin” (Demócrito B Miranda-Filho, Ricardo A A Ximenes, Noêmia T Siqueira-Filha and Andreia C Santos. Tropical Medicine and International Health.18(5):555–563,2013) comparou as duas intervenções estimando os custos pelo método de custo padrão. As categorias de custos foram: pessoal, despesas gerais, consumíveis, antibióticos, gases para assistência respiratória e a imunoglobulina. O estudo que serviu de referência foi um ensaio clínico randomizado e controlado realizado em um hospital de referência em Recife, no Brasil (Miranda-Filho et al. BMJ, doi:10.1136/bmj.38027.560347.7C, 5/32004). Nele, pacientes com tétano, com 12 anos ou mais de idade, foram alocados em dois grupos: um grupo controle (58) e um grupo de estudo (62). Os pacientes do grupo controle receberam 3.000 unidades internacionais (UI) de imunoglobulina humana, via intramuscular.

O grupo de estudo recebeu a mesma quantidade de imunoglobulina também por via intramuscular além de uma dose intratecal de 1000 UI de uma imunoglobulina humana, sem conservantes. Assim, a diferença entre os dois grupos foi a utilização de imunoglobulina intratecal. As medidas de desfecho foram: evolução clínica, tempo de internação hospitalar, assistência respiratória e infecção respiratória. O uso da imunoglobulina intratecal resulta numa economia de U$ 60.389,00 (dólares americanos) em 10 dias de tratamento intensivo, evitando o agravamento do tétano (por exemplo, de grau I para os graus II, III, IV). Economia substancial de custos também foi observada em termos de tempo de internação hospitalar (U$ 173.104,00). A conclusão é que o tratamento intratecal do tétano poupa custos. Esta intervenção deve ser levada em conta pelos médicos e pelas autoridades que tomam decisões, como um meio de economizar recursos, permitindo resultados de saúde de alta qualidade.

A imunoglobulina usada na pesquisa foi importada da Áustria exclusivamente para este fim. Atualmente, não temos este produto no Brasil. Esta HTIG era produzida por uma empresa privada que interrompeu a sua fabricação pouco tempo depois da pesquisa, por falta de demanda, pois o custo era relativamente alto e no país de seu fabricante o tétano é doença rara. Brasil tem tecnologia para produzir este hemoderivado especialmente se levarmos em conta o advento da Hemobrás, que deve entrar em funcionamento brevemente. A demanda nacional atualmente é de cerca de 300 casos/ano sendo provável que a capacidade de produção atenda esta demanda e possa dispor de excedentes para fornecer para outros países. Sugerimos que gestores considerem que esta alternativa de tratamento seja adotada pelo SUS, principal responsável pelo tratamento destes pacientes no Brasil.

Elaborado por:
Demócrito de Barros Miranda Filho
Data da Resenha:
04/11/2013
Eixo Temático:
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico:
Análises Econômicas

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