Teleconsultorias ortopédicas na atenção primária: um potencial de melhora para a saúde pública

Resenha do artigo:

Silva LB, Pereira DN, Chagas VS, Pessoa CG, Gouvea KAA, Andrade MAP, Soares TBC, Marcolino MS. Orthopedic Asynchronous Teleconsultation for Primary Care Patients by a Large-Scale Telemedicine Service in Minas Gerais, Brazil. Telemed J E Health. 2021 Dec 3. doi: 10.1089/tmj.2021.0293. Epub ahead of print. PMID: 34861120.

A telemedicina foi implementada no Brasil como uma forma de auxílio na Atenção Primária em Saúde (APS). Como queixas ortopédicas são extremamente comuns na APS, envolvendo principalmente doenças musculoesqueléticas- as causas mais frequentes de dor crônica atualmente-, é importante explorar as lacunas no conhecimento dos profissionais da atenção primária. Ao mesmo tempo, as teleconsultorias podem ser utilizadas como ferramenta para sanar possíveis dúvidas e ampliar o conhecimento dos profissionais, assim, também é importante avaliar o impacto da implementação das teleconsultorias na APS em reduzir encaminhamentos para a atenção secundária.

O estudo retrospectivo observacional visa analisar teleconsultorias ortopédicas consecutivas realizadas pela Rede de Telessaúde de Minas Gerais, um serviço público de teleassistência de grande escala. Foram avaliadas teleconsultorias ortopédicas realizadas entre 17 de setembro de 2013 e 18 de junho de 2020. Tais teleconsultorias foram divididas como assistenciais (assistência para um caso clínico específico) ou educacionais (abordagem sobre uma questão geral, não específica de um paciente) ao serem requisitadas pelo profissional de saúde. Ainda dentro dessa divisão, as teleconsultorias assistenciais foram designadas como prioridade urgente ou eletiva. Assim que foram requisitadas, as teleconsultorias foram inicialmente encaminhadas para médicos generalistas, responsáveis por responder o questionamento em até 24 horas. Caso o profissional acredite que seja necessário, o questionamento foi encaminhado para um especialista, com a resposta sendo enviada em até 48 horas.

Para a realização do estudo, as seguintes variáveis foram avaliadas: profissão de quem requereu a teleconsultoria, categoria da teleconsultoria (assistencial ou educacional), motivação do requerimento (diagnóstico, tratamento e/ou reabilitação), local da lesão e especialidade. Outros aspectos avaliados foram o sexo do paciente, prioridade do requerimento, necessidade de encminhamento para consulta presencial com ortopedista e cronicidade da queixa.

Foram analisadas 1.174 teleconsultorias ortopédicas de 254 municípios do estado de Minas Gerais. Dessas, 37,8% foram requeridas por enfermeiros e 48,7% por médicos generalistas. Grande parte das teleconsultorias (58,3%) puderam ser resolvidas por médicos generalistas, havendo necessidade de encaminhamento para ortopedistas em 38,4%. Teleconsultorias assistenciais compuseram a maior parte dos requerimentos (66%), sendo apenas 34% de caráter assistencial. As motivações para as teleconsultorias assistenciais de maior para menor frequência foram: opções de tratamento (72%), hipótese diagnóstica (49,5%) e reabilitação (20,1%). É importante salientar que durante o requerimento, os profissionais poderiam escolher mais de uma motivação para a realização da teleconsultoria. Ademais, 95,5% das teleconsultorias puderam ser resolvidas de maneira remota, havendo necessidade de encaminhamento para consulta presencial com ortopedista em apenas 4,5%.

Tendo tudo isso em vista, é possível concluir que as teleconsultorias podem auxiliar na investigação das queixas ortopédicas mais frequentes da atenção primária. A grande maioria delas pôde ser resolvida sem a necessidade de encaminhamento para consulta presencial com um especialista, demonstrando o potencial das teleconsultorias na prática clínica diária como forma de manejar pacientes e garantir um melhor acesso à saúde de qualidade. Já para o sistema público de saúde, as teleconsultorias representam uma forma viável de superar as grandes distâncias que, em um país de dimensões continentais como o Brasil, muitas vezes, são uma barreira para o acesso à saúde.

Este estudo foi financiado em parte pelo Instituto de Avaliação de Tecnologias em Saúde (IATS), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tais financiamentos foram de suma importância para o desenvolvimento da pesquisa, permitindo atualização sobre o uso de sistemas de teleassistência para aprimorar a atuação da Atenção Básica.

Elaborada por
Daniella Nunes Pereira
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
30/11/2021
Eixo Temático
Serviços de Saúde e Políticas Públicas
Eixo Metodológico
Plataforma Metodológica de Apoio à Avaliação e Monitoramento de Tecnologias em Saúde
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