Tendência das taxas de letalidade da COVID-19 em hospitais públicos brasileiros

Resenha do artigo:
Zimmermann et al. Trends in COVID-19 case-fatality rates in Brazilian public hospitals: A longitudinal cohort of 398,063 hospital admissions from 1st March to 3rd October 2020. PLoS One. 2021 Jul 16;16(7):e0254633.

No ano de 2020, foram relatadas quase 200.000 mortes por COVID-19 no Brasil. Por se tratar de uma nova doença, sua taxa de letalidade pode variar ao longo do tempo. Assim, a análise das tendências da taxa de letalidade (Case-Fatality Rate) hospitalar  da COVID-19 em hospitais brasileiros e a relação entre importantes fatores de risco, como sexo, idade, cor, comorbidades, pode auxiliar a compreensão da doença em nosso contexto.

A partir dos dados públicos de registros de quase 400 mil internações hospitalares (AIH) relacionadas à COVID-19, foi possível analisar a evolução da letalidade hospitalar da doença no Sistema Único de Saúde (SUS). Do total de registros identificados, 86,452 (21,7%) se referiam a internações com evolução a óbito. Ao longo da primeira onda de propagação da doença no Brasil, a tendência de letalidade hospitalar (padronizada por idade) variou de 31,8% (IC 95%: 31,2 a 32,5%) na semana epidemiológica 10 (início em 01 de março de 2020) para 18,2% (IC 95%: 17,6 a 18,8%) na semana 40 (final em 03 de outubro de 2020). O perfil temporal e magnitude das taxas de letalidade variou de acordo com a região geográfica e os fatores de risco analisados.

Além da análise das tendências ao longo do tempo, foram conduzidas análises de sobrevida com modelos de regressão de Cox. Considerando os ajustes por co-variáveis, pacientes com mais de 80 anos de idade tiveram uma razão de risco (HR) de óbito de 8,18 (IC de 95%: 7,51 a 8,91) quando comparados a indivíduos mais jovens. Além da idade, internações referentes a indivíduos do sexo masculino (HR: 1,08; IC95%: 1,06 a 1,09), indígenas (HR: 1,25; IC95%: 1,07 a 1,45), de cor preta (HR: 1,09; HR: 1,06 a 1,13) e parda (HR: 1,05; 1,02 a 1,07) foram associadas ao aumento no risco de óbito hospitalar. Do ponto de vista clínico, a presença de comorbidades, como câncer (HR: 1,40; IC95%: 1,28 a 1,53), e a necessidade de admissão em UTI (HR: 2,08; IC95%: 2,05 a 2,11) também aumentaram o risco de óbito.

Apesar da queda na taxa geral de letalidade hospitalar no período analisado, as taxas brasileiras ainda mantiveram valores altos quando comparadas a outros países, como a queda de 6,0% para 1,5% na Inglaterra e de 25,6% para 7,6% nos Estados Unidos. Da mesma forma, mesmo com a tendência de queda, a letalidade hospitalar em pessoas admitidas em UTI ficou em torno de 40–50% ao longo de todo período, mostrando a consistência entre a letalidade e a gravidade dos casos.

Essa pesquisa só foi possível graças ao financiamento público de pesquisa por meio da chamada MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit N ° 07/2020 para pesquisas de enfrentamento a COVID-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves.

Elaborada por
Ivan R. Zimmermann
Mauro Niskier Sanchez
Gustavo Saraiva Frio
Layana Costa Alves
Claudia Cristina de Aguiar Pereira
Rodrigo Tobias de Sousa Lima
Carla Machado
Leonor Maria Pacheco Santos
Everton Nunes da Silva
Data da Resenha
26/07/2021
Eixo Temático
Doenças Infecciosas e Tropicais
Serviços de Saúde e Políticas Públicas
Eixo Metodológico
Pesquisas Epidemiológicas

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