Custo efetividade da vacina conjugada antipneumocócica no Brasil

Resenha do artigo:

Vespa G, Constenla DO, Pepe C, Safadi MA, Berezin E, de Moraes JC, de Campos CA, Araujo DV, de Andrade AL. Estimating the cost-effectiveness of pneumococcal conjugate vaccination in Brazil. Rev Panam Salud Publica. 2009 Dec;26(6):518-28. doi: 10.1590/s1020-49892009001200007. PMID: 20107706.

As vacinas representam um importante grupo de tecnologias em saúde e avaliar o custo efetividade da vacinação constitui um requisito essencial para a introdução de novas vacinas em larga escala. Atualmente, a avaliação do custo efetividade da vacinação anti-pneumócica é crucial em saúde pública, pois o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) representa uma das causas principais de doenças bacterianas invasivas (sepse, meningite) e infecções não invasivas graves, como pneumonia, e otite média aguda atingindo crianças em idade vulnerável. Estima-se que esta infecção bacteriana cause entre 700 000 a 1 milhão de mortes anuais no mundo. A vacina heptavalente anti-pneumocócia reduz o risco de infecções pneumocócicas graves, é eficaz e segura e vem sendo utilizada na rotina de imunização de diversos países (Estados Unidos da America, Reino Unido, México entre outros).

Pesquisadores brasileiros (Vespa G et al.) avaliaram os custos e benefícios da introdução da vacina pneumocócica heptavalente no programa nacional de imunização.

O objetivo principal do estudo foi avaliar o custo efetividade (CEA) da vacinação comparada com a não vacinação, na perspectiva do sistema de saúde (custos inerentes aos cuidados de saúde) e da sociedade (custos para o paciente, a família e outras perdas monetárias associadas). Os autores estruturaram um modelo econômico que incluiu os custos dos desfechos das infecções pneumocócicas invasivas e não invasivas em crianças. Essa avaliação econômica assumiu os desfechos das diferentes infecções para uma coorte de nascidos vivos seguidos até cinco anos de idade, comparando as respectivas probabilidades de progressão clínica de cada doença e seus desfechos como cura, morte ou disfunções/incapacidades para a população vacinada e não vacinada.  A incidência de casos de doenças pneumocócicas por idade foi estimada tendo-se como base o inquérito em centros de saúde da região Centro-Oeste. Outras fontes de informações oficiais utilizadas para estimar os custos unitários foram: base de dados de internação hospitalar e ambulatorial (SIH/SUS e SIA/SUS) e custos de procedimentos de saúde (DATASUS). Os custos médicos diretos foram estimados levando em conta informações obtidas por painel de especialistas. Estimou-se também os custos indiretos, isto é, as despesas dos familiares e as perdas de produtividade. Para a análise de custo efetividade, estimou-se o número de casos de cada doença prevenida pela vacinação versus não vacinação e os anos de vida ganhos sem incapacidades.

A análise econômica evidenciou que a introdução da vacina antipneumocócica com cobertura para toda a população infantil seria capaz de evitar anualmente 1 047 casos de sepses e meningites, 58 226 casos de pneumonias e 209 862 casos de otite média aguda. O programa de vacinação evitaria 1,3 milhões de casos e mais de 7 000 mortes por doença pneumocócica, levando em conta o efeito de imunidade de grupo (proteção dos não vacinados pela redução da transmissão do pneumococo pelos vacinados).  Ao preço de R$ 51,12 (US$ 26.35) por dose, o custo anual da vacinação seria de R$ 4 286 (US$ 2,211) por ano de vida ajustado por incapacidade evitada. De acordo com os preços atuais, a implementação da vacina conjugada antipneumocócica foi considerada custo-efetiva em comparação com as outras opções para controle de doenças infantis.

Esse estudo econômico apresenta-se bem estruturado e abrangente pois incluiu no modelo, além dos custos médicos diretos e indiretos, a perspectiva de perdas da sociedade em geral, conforme as bases de avaliação de custo-efetividade de vacinas. São também apresentadas análises secundárias usando três cenários adicionais com fontes de dados e as estratégias de vacinação de três ou quatro doses vacinais.  Entre as limitações metodológicas encontra-se a ausência de dados sobre a eficácia vacinal em população brasileira, citado pelos próprios autores como informação crítica neste tipo de avaliação econômica. Extrapolando resultados de ensaios conduzidos em outros países, os autores estimaram que a vacina heptavalente cobriria 70% dos sorotipos circulantes na população infantil do Brasil, percentual este mais baixo que os obtidos nos demais ensaios. No entanto, se os dados de eficácia usados no modelo econômico não refletirem as evidências clínicas nacionais, a análise econômica pode apresentar viés. Ainda como limitante do estudo os resultados das estimativas dos custos médicos diretos poderiam ser melhor mensuradas através de dados primários, ao invés de informações obtidas por painel de especialistas. Os resultados apresentados são valiosos para a saúde pública e concordamos com os autores da necessidade de outras avaliações econômicas para estabelecer se a estratégia de vacinação infantil com a vacina pneumocócica heptavalente seria economicamente viável no contexto brasileiro.

Elaborado por:
Celina Maria Turchi Martelli
João Borges Peres Júnior
Data da Resenha:
24/03/2010
Eixo Temático:
Vacinas e Imunopreviníveis
Eixo Metodológico:
Análises Econômicas

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