Avaliação da mortalidade na fibrilação atrial: resultados clínicos no estudo da eletrocardiografia digital (CODE)

Resenha do artigo:
Paixão GMM, Silva LGS, Gomes PR, Lima EM, Ferreira MPF, Oliveira DM, Ribeiro MH, Ribeiro AH, Nascimento JS, Canazart JA, Ribeiro LB, Benjamin EJ, Macfarlane PW, Marcolino MS, Ribeiro AL. Evaluation of Mortality in Atrial Fibrillation: Clinical Outcomes in Digital Electrocardiography (CODE) Study. Glob Heart. 2020 Jul 28;15(1):48. doi: 10.5334/gh.772. PMID: 32923342; PMCID: PMC7413140.

À medida que a população mundial envelhece, a prevalência de fibrilação atrial (FA) está aumentando, com um consequente impacto econômico[1]. Estima-se que cerca de 0,5 a 1% da população geral possui FA [2–3]. A fibrilação atrial aumenta o risco de mortalidade por todas as causas, mortalidade cardiovascular e morbidade [4-5]. O acidente vascular encefálico em pacientes com FA geralmente é mais grave, com pior prognóstico e custos mais elevados para o sistema de saúde [6].

Os custos relacionados à FA são responsáveis ​​por 1% do orçamento do Serviço Nacional de Saúde no Reino Unido e, nos Estados Unidos, as hospitalizações gerais por FA aumentaram 23% de 2000 a 2010, com um aumento de 24% do custo médio das internações [7–8]. Metade da população mundial está concentrada em alguns países em desenvolvimento: Bangladesh, Brasil, China, Índia, Indonésia, Nigéria e Paquistão [9].
Nesses países, as populações de indivíduos com mais de 60 anos possuem previsão de, pelo menos, dobrar até 2050 [9]. É preocupante que, com o rápido envelhecimento da população, os custos pela FA estejam propensos a aumentar exponencialmente[9].

Existem poucos estudos sobre a mortalidade por FA e seus fatores de risco em países de baixa e média renda, especialmente em uma população de atenção primária. No Brasil, a taxa de mortalidade por FA e flutter atrial foi estimada em 2,8 por 100.000 habitantes, padronizado por idade [10].

O uso de coortes eletrônicas, com bancos de dados de eletrocardiogramas (ECG) vinculados a dados de mortalidade, pode ser uma ferramenta importante na determinação do valor prognóstico de marcadores eletrocardiográficos.

O estudo publicado na Global Heart Journal em julho de 2020 intitulado “Evaluation of Mortality in Atrial Fibrillation: Clinical Outcomes in Digital Electrocardiography (CODE) Study´´ avaliou 1,558,421 pacientes assistidos pela Rede de Teleassistência à Saúde de Minas Gerais (11) que realizaram ECG no período de 2010 a 2017. Observou-se a presença de FA foi fator de risco independentemente da idade, sexo e condições clínicas para aumento de mortalidade por todas as causas e por causas cardiovasculares.

Dessa forma, sugerimos que políticas de saúde pública devem ser direcionadas para diagnóstico e seguimento dos pacientes com FA. O rastreio eletrocardiográfico de pacientes com fatores de risco para FA, como: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença arterial coronariana e doença de Chagas é recomendável. As unidades básicas de saúde possuem estrutura para realização de ECG com laudo remoto de cardiologista no mesmo dia do exame.

Diante do diagnóstico eletrocardiográfico de FA, a instituição precoce de tratamento que constitui em controle da arritmia e anticoagulação oral, se indicada, pode reduzir a morbimortalidade da doença. Os médicos da atenção primária devem ser instruídos a iniciar o tratamento, uma vez que a espera pelo especialista pode ser longa, atrasando o manejo do paciente.

Os resultados do presente estudo apontam a necessidade de construção de protocolos assistenciais para tratamento de FA, bem como, para o manejo de anticoagulação oral. A equipe da atenção primária da saúde deve ser capacitada. Ferramentas, como: tele-educação e tele consultoria, são de grande utilidade para educação multiprofissional, principalmente, em municípios distantes de grandes centros e com menor índice de desenvolvimento humano. Além disso, deve-se reforçar que a prevenção dessa doença está no controle adequado das condições clínicas de base.

Leia o ARTIGO.

Referências Bibliográficas:
1. Chugh SS, Havmoeller R, Narayanan K, Singh D, Rienstra M, Benjamin EJ, et al. Worldwide epidemiology of atrial fibrillation: A global burden of disease 2010 study. Circulation. 2014; 129(8): 837–47.DOI: https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.113.005119

2. Magalhães L, Figueiredo M, Cintra F, Saad E, Kuniyoshi R, Teixeira R, et al. II Diretrizes Brasileiras de Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol. 2016; 106(4): 1–22. http://www.gnresearch.org/doi/10.5935/abc.20160055 (accessed 29 Apr 2018). DOI: https://doi.org/10.5935/abc.20160055

3. Benjamin EJ, Muntner P, Alonso A, Bittencourt MS, Callaway CW, Carson AP, et al. Heart Disease and Stroke Statistics—2019 Update: A Report from the American Heart Association. Circulation. 2019.

4. Benjamin EJ, Wolf PA, D’Agostino RB, Silbershatz H, Kannel WB, Levy D. Impact of Atrial Fibrillation on the Risk of Death: The Framingham Heart Study. Circulation. 1998; 98(10): 946–52. http://circ.ahajournals.org/cgi/doi/10.1161/01.CIR.98.10.946. DOI: https://doi.org/10.1161/01. CIR.98.10.946

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8. Kirchhof P, Benussi S, Kotecha D, Ahlsson A, Atar D, Casadei B, et al. 2016 ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation developed in collaboration with EACTS. Europace. 2016; 18:1609–78. DOI: https://doi.org/10.1093/europace/euw295

9. Patel NJ, Deshmukh A, Pant S, Singh V, Patel N, Arora S, et al. Contemporary trends of hospitalization for atrial fibrillation in the united states, 2000 through 2010 implications for healthcare planning. Circulation. 2014; 129: 2371–9. DOI: https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.114.008201

10. Rahman F, Kwan GF, Benjamin EJ. Global epidemiology of atrial fibrillation. Nat Rev Cardiol. 2014;11: 639–54. DOI: https://doi.org/10.1038/nrcardio.2014.118

11. Alkmim MB, Minelli Figueira R, Soriano Marcolino M, Silva Cardoso C, Pena de Abreu M,
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Elaborada por
Gabriela Paixão
Data da Resenha
23/12/2020
Eixo Temático
Doenças Cardiovasculares e Fatores de Risco
Eixo Metodológico
Plataforma Metodológica de Apoio à Avaliação e Monitoramento de Tecnologias em Saúde

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