Fatores associados à rigidez arterial em indivíduos infectados pelo HIV e controles não infectados

Resenha do artigo:

Monteiro P, Miranda-Filho DB, Bandeira F, Lacerda HR, Chaves H, Albuquerque MF, Montarroyos UR, Ximenes RA. Is arterial stiffness in HIV-infected individuals associated with HIV-related factors? Braz J Med Biol Res. 2012 Sep;45(9):818-26. doi: 10.1590/s0100-879×2012007500116. Epub 2012 Jul 12. PMID: 22782555; PMCID: PMC3854322.

A evolução da infecção pelo HIV mudou radicalmente a partir de 1996, quando o tratamento antirretroviral combinado resultou em uma dramática redução na mortalidade. Apesar dos benefícios inquestionáveis, desde então se identificaram complicações do tratamento associadas a doenças cardiovasculares, incluindo alterações metabólicas como dislipidemia e diabetes e de composição corporal como acúmulo de gordura visceral. De fato, diversos estudos reportaram a associação entre uso cumulativo de antirretrovirais e risco aumentado de infarto do miocárdio. Também se observou que outros fatores de risco cardiovascular como tabagismo e uso de drogas ilícitas são mais prevalentes entre os indivíduos infectados por HIV. Por outro lado, a imunodeficiência relacionada ao HIV e a consequente ativação imune foram também implicadas no aumento de risco cardiovascular, como evidenciado em estudos de interrupção programada do tratamento antirretroviral.

A velocidade da onda de pulso (VOP) carotídeo-femoral é uma forma de estimar a rigidez da parede arterial.  Vários estudos já demonstraram que a VOP pode ser preditiva de morbidade e mortalidade cardiovascular. Até o presente momento poucos estudos compararam rigidez arterial em infectados por HIV com controles não infectados, especialmente em países em desenvolvimento.

Em 2007, na cidade de Recife, Pernambuco, um grupo de investigadores iniciou o acompanhamento de infectados por HIV provenientes de dois centros de referência para o tratamento de HIV/AIDS com o objetivo de avaliar alterações metabólicas e cardiovasculares de forma prospectiva. Em um subgrupo de pacientes investigamos a associação entre velocidade de onda de pulso e infecção pelo HIV, características relativas ao tratamento antirretroviral, estado virológico e imunológico, em um estudo observacional do tipo transversal.

De abril a novembro de 2009 foram incluídos 261 infectados pelo HIV e um grupo controle de 82 pacientes não infectados. Os grupos foram similares com respeito à idade, a presença de síndrome metabólica, de diabetes mellitus, escore de risco CV de Framingham, uso de anti-hipertensivos e agentes hipolipemiantes. Indivíduos infectados pelo HIV apresentaram níveis plasmáticos mais elevados de triglicerídeos e mais baixos de colesterol HDL. Hipertensão arterial sistêmica foi mais prevalente entre os controles não infectados. Frequência cardíaca, idade, sexo masculino e pressão arterial foram independentemente correlacionados com VOP em ambos os grupos. Não houve diferença na velocidade de onda de pulso entre infectados por HIV e controles não infectados. O estudo apresenta limitações comuns a estudos observacionais e, como tal, está sujeito a potenciais vieses de seleção e limitações no estabelecimento de causalidade. O aspecto inovador do estudo é o fato de ter incluído pacientes infectados pelo HIV tratados e não tratados, de ambos os sexos e, controles ambulatoriais não infectados. O tamanho amostral foi também um ponto forte do estudo, já que foi um dos maiores estudos publicados a avaliar a rigidez arterial em infectados pelo HIV. Outro aspecto positivo é o fato de os participantes terem sido recrutados em uma coorte longitudinal, que poderá fornecer dados do seguimento em longo prazo. Os resultados indicaram que a infecção pelo HIV não foi associada com o aumento da VOP e que talvez o excesso de risco cardiovascular observado em estudos prévios possa ser justificado pela presença de fatores de risco modificáveis.

Elaborado por:
Demócrito de Barros Miranda Filho
Data da Resenha:
12/04/2014
Eixo Temático:
Doenças Infecciosas e Tropicais
Eixo Metodológico:
Pesquisas Epidemiológicas

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