Teleconsulta síncrona e telemonitoramento no contexto da covid-19: lições para os cuidados em saúde pós-pandemia

Resenha do artigo:

Marcolino MS, Diniz CS, Chagas BA, Mendes MS, Prates R, Pagano A, Ferreira TC, Alkmim MBM, Oliveira CRA, Borges IN, Raposo MC, Reis ZSN, Paixão MC, Ribeiro LB, Rocha GM, Cardoso CS, Ribeiro ALP. Synchronous Teleconsultation and Monitoring Service Targeting COVID-19: Leveraging Insights for Postpandemic Health Care. JMIR Med Inform. 2022 Dec 22;10(12):e37591. doi: 10.2196/37591. PMID: 36191175; PMCID: PMC9786675.

A pandemia da covid-19 representou um grande desafio para os sistemas de saúde, tendo em vista a necessidade de minimização da superlotação dos serviços em paralelo ao fornecimento de alternativas para a assistência ao paciente, preservando o distanciamento social. Sendo assim, houve um grande crescimento dos serviços de telessaúde, levando, inclusive, à legalização da prática da telemedicina no Brasil. Neste contexto, em março de 2020, a Rede de Teleassistência de Minas Gerais iniciou o desenvolvimento do programa TeleCOVID-MG, visando assistir pacientes com suspeita de infecção por covid-19. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a viabilidade de implementação e expansão do serviço de teleconsultas para pacientes com sintomas da covid-19, bem como verificar a usabilidade e satisfação do serviço.

O estudo foi desenvolvido em cinco fases: 1) Discussão com especialistas das áreas de tecnologia e informação, telemedicina, doenças infecciosas e enfermagem para definição dos componentes de intervenção principais; 2) Desenvolvimento e validação do sistema; 3) Teste-piloto em Divinópolis; 4) Expansão do projeto para Teófilo Otoni e para a comunidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); 5) Avaliação da usabilidade e satisfação do serviço por meio de questionário baseado na escala Likert.

Neste contexto, o TeleCOVID-MG funcionava com base em quatro níveis: 1) Triagem por profissionais locais (técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos) no teste-piloto em Divinópolis e por telefone/chatbot na fase de expansão; 2) Atendimento pela enfermagem; 3) Atendimento por médicos; 4) Monitoramento por acadêmicos sob supervisão médica. Os objetivos principais eram avaliar pacientes com sintomas respiratórios/gripais, monitorar pacientes com covid-19 e prover informações atualizadas sobre a pandemia para a população.

Até a publicação do estudo, 31.966 pacientes foram atendidos e 146.158 teleconsultas foram realizadas, sendo a maior parte em Teófilo Otoni (55.8%). Tem-se que o principal meio de entrada no sistema, bem como principal método de teleconsultas, foi a ligação telefônica. A eficiência do sistema foi de 93.7% em Teófilo Otoni, 92.4% em Divinópolis e 98.8% na UFMG. Dentre as principais dificuldades percebidas, destaca-se a dificuldade de contato com o paciente, especialmente os residentes de áreas rurais, tendo em vista a instabilidade da rede telefônica; o desafio de alinhar as diretrizes mais recentes à prática médica local – o que foi minimizado pelo fornecimento de treinamento para os profissionais de saúde locais; e o baixo nível socioeconômico da população, que limitou o acesso ao sistema por meio do chatbot, bem como o uso de videoconferência para as teleconsultas. Por fim, tem-se que 50 dos 60 profissionais que usaram o sistema responderam ao questionário. Destes, 43,8% eram mulheres, com idade mediana 35 [IQR 31-40]; 42% eram médicos e 54% eram enfermeiros. De modo geral, o sistema foi avaliado como satisfatório, exceto no tópico de “o sistema era estável e não ocorreram erros durante o uso”.

Tendo isso em vista, o estudo permitiu a avaliação do desenvolvimento e implementação do sistema de teleconsultas e telemonitoria, TeleCOVID-MG. A principal barreira para a implementação do serviço foi a pouca experiência com a modalidade de teleconsultas, uma vez que, apesar da longa experiência da Rede de Teleassistência de Minas Gerais com ferramentas de telessaúde e teleconsultorias, a telemedicina como forma de assistência direta ao paciente foi legalizada apenas no contexto da pandemia; e o ainda insuficiente conhecimento técnico sobre a covid-19 até aquele momento. Apesar disso, o programa teve sucesso na assistência aos pacientes com covid-19, minimizando a sobrecarga dos serviços presenciais de saúde, bem como no esclarecimento das dúvidas da população acerca da pandemia. Por fim, tendo em vista os eventuais questionamentos acerca da eficiência e segurança das consultas a distância, o estudo evidencia importantes lições para o melhor desenvolvimento do sistema e, consequentemente, para o melhor manejo do paciente: 1) Reunir profissionais previamente capacitados e com experiência na área a ser desenvolvida, principalmente em contextos emergenciais; 2) Reforçar a importância do engajamento dos profissionais que atuarão na linha de frente do sistema durante o seu desenvolvimento; 3) Reconhecer que a avaliação dos usuários do sistema depende do contexto; nesse caso, o cenário da pandemia pode ter impactado positivamente na percepção dos profissionais de saúde no uso de ferramentas de telessaúde; 4) Deve-se buscar alternativas para a assistência da população residente de áreas remotas e/ou de baixo nível socioeconômico, tendo em vista o acesso limitado à internet.

Elaborada por
Thaís Marques Pedroso
Milena Soriano Marcolino
Data da Resenha
17/05/2023
Eixo Temático
Serviços de Saúde e Políticas Públicas
Eixo Metodológico
Plataforma Metodológica de Apoio à Avaliação e Monitoramento de Tecnologias em Saúde

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